MATRIZES, FILIAIS & COMPANHIAS
(1979)

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  • CATÁLOGO (20/51)
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    Flávio Império
    Catálogo da exposição, 1979
    Impresso sobre papel

    Acervo Flávio Império

    Procuro meu próprio equilíbrio entre o acaso e o improviso. Essa é uma chave que me acontece desde sempre e com a qual me acostumei ir vivendo. 

    As bandeiras em pano "carne-seca" são a experiência mais próxima desse encontro possível, onde o incidente e o acidente se cruzam na criação de novas realidades.

    Vira e mexe, eu me perco de mim. Nessas, perambulando pelo Nordeste, acabei por me identificar com os tabuleiros de "carne-seca" dos mascates do Mercado de São José, no Recife.

    Ali, excluídas da convivência dos tecidos "normais", a "carne-seca" é vendida a quilo como "pano manchado", "pano com defeito de fabricação", a sucata da indústria de estamparia, tanto do Sul como do Nordeste mesmo.

    Aos poucos decifrei sua linguagem.

    Resultante das operações de limpeza do equipamento industrial de impressão serigráfica de estamparia, os retalhos de "carne-seca" retêm o rastro e padrões originais e o escorrido das tintas dissolvidas, de maneira aleatória.

    Muitas vezes os "padrões" da estamparia aparecem decupados em suas matrizes componentes justapostas, superpostas, falhas ou contrapostas aos borrões e manchas das sobras de tinta. Tudo isso impresso "fora do registro".

    Combinados no puro jogo do azar, até os "padrões" mais pueris tornam-se interessantes. A nova imagem é a do largo gesto do trabalho de limpeza. 

    Procurei encontrar, perguntando, uma possível origem para o nome. 

    Acabei por supor que "carne-seca" traga sua conotação analógica ligada ao fato dos retalhos de pano, muitas vezes, ficarem grossos e duros de tinta, quase um couro, e serem vendidos em tabuleiros nas lojas e nas feiras. 

    MATRIZES, FILIAIS & COMPANHIAS
    (1979)