O "clima" em torno desses tabuleiros é de indisfarçável competição entre os interessados, pela sorte de se encontrar um retalho "melhorzinho", que ainda dê uma roupa nova, relativamente decente. Isso se repete em qualquer cidade grande do Brasil: em Madureira, no Rio de Janeiro, na 25 de Março em São Paulo, por exemplo.
Uma vez identificado o meu único interesse pelos "piorzinhos", acabo contando com a colaboração divertida das minhas companheiras de tabuleiro. É muito raro um homem comprando pano… e os poucos, encabulados, vão logo explicando que é presente prá mãe ou prá namorada. Invariavelmente questionado quanto à minha estranha preferência, acabei encontrando na hipótese de fantasias de carnaval a explicação mais simples e plausível.
Fico com a impressão de que a "carne-seca" veste a miséria que se veste.
Trabalhar impressões serigráficas sobre "carne-seca" passou a ser um treino do improviso, exigindo movimentos e decisões rápidas e atentas, na manipulação das matrizes, tintas, cores técnicas de impressão. Uma estranha dança de preparações e limpezas, onde através de lances e relances as imagens vão se adequando aos fundos pré-existentes.
Na verdade, cada impressão no pano é somente um instante entre todos os movimentos e operações necessárias.
A água para as tintas e para as assíduas lavagens das matrizes, acaba por se tornar uma companhia constante nos pés e nas mãos e pela roupa toda, sempre úmida.
O sol e o vento se combinam na secagem de cada fase de impressões, muitas vezes substituído por chuvas que ameaçam dissolver até a alma.