OS FUZIS DA MÃE CARRAR
(1962)

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  • REPERCUSSÃO (1/4)
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    Carlos Von Schmidt
    Folha de S. Paulo
    22 de fevereiro de1962

    Acervo Flávio Império

    © Carlos Von Schmidt

    Os atores em Os Fuzis

    Com exceção da interpretação de Dina Lisboa, que ainda voltaremos a comentar, as demais de Os Fuzis, oscilam entre boas e razoáveis. Lima Duarte, que em O Testamento do Cangaceiro apresentou excelente desempenho, desta feita não foi tão feliz. Temos a impressão de que o ator não teve temo suficiente para desenvolver, amadurecer psicologicamente a personagem, embora a tenha criado fisicamente. Esperávamos atuação mais firme, mais desenvolta, mais interiorizada. O revolucionário, que interpreta, é símbolo de luta, força, sacrifício, resistência. Este somente aparece quando o ator discute acaloradamente com o padre. No mais, não comparece. Arnaldo Weiss, por sua vez, não emprestou à criatura que representa o caráter irresoluto, mistificador, que ela possui. Transmitiu-lhe a dúvida, a hesitação, a timidez, mas não deixou bem claro onde terminava a do intérprete e começava a da personagem. Paulo José, como o caçula dos Carrar, natural, à vontade, com boa presença e jogo de cena, apresenta convincente atuação, contracenando com desenvoltura. Quanto à linha interpretativa impressa à senhora Perez e às carpideiras, vendo-as como personagens de exceção, fora do comum, presentes apenas como trágicos contrapontos, como figuras integrantes da tradição ritualística, e porque não folclórica da península ibérica, como elementos característicos a situações anormais, está perfeitamente bem definida, ainda que possa parecer excessivamente trágica, isto porque estas criaturas, misto de parcas, de cassandras agourentas, portadoras de desgraças e tristezas não podem ser encaradas sob outro aspecto. Este nos parece o único e admissível, e justifica, plenamente, a interpretação rídiga, fria e formal da interprete da senhora Perez, Eucaris de Morais, e de Iola Maia e Edite Mondego, vizinhas. Intervem, ainda, Ari Toledo (Paulo), Roberto Segretti (pescador), discretos, necessitando o primeiro melhorar a dicção. Ivonete Vieira (Manuela) precisando conter-se mais e deixar que a força da personagem não se manifeste pelo volume da voz, mas pela intensidade que possui, e Milton Gonçalves (narrador). A Flávio Império coube a execução da cenografia, figurinos, o planejamento e as ilustrações do programa, tendo realizado excelente trabalho. Cenário, figurinos e programa casam-se entre si, apresentando unidade plástica e equilíbrio formal indiscutível. A matéria, as cores, as formas, denotam o cuidado e o zelo profissional que caracterizou o seu trabalho, de todos, o em que melhor se exprimiu. Quando à tradução de Antonio Abujamra, de tão boa, chega a parecer que é o original. Só nos resta dizer que não deixem de assistir a Os Fuzis da Senhora Carrar.

    O espetáculo do Arena é limpo, honesto, decente. Merece, deve e precisa ser visto.

    CARLOS VON SCHMIDT

    OS FUZIS DA MÃE CARRAR
    (1962)