CARNAVAL, AVENIDA TIRADENTES
(1984)

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    Equipe de Reportagem
    Folha de S. Paulo
    3 de janeiro de 1984

    Acervo Flávio Império

    © Equipe de Reportagem

    As cores do Carnaval na avenida

    Para Tozzi, autor do logotipo, e Flávio Império, cenógrafo, a cor é o elemento principal na composição da grande festa

    Desfile de Carnaval não acontece apenas à noite. Aliás, 70% do tempo gasto pelas escolas de samba na avenida estão concentrados no dia, faça sol ou caia chuva. Está aí o ponto de partida da decoração criada pelo cenógrafo Flávio Império para o Carnaval 84, cujo projeto completo e mais o logotipo oficial, criado por Cláudio Tozzi, serão lançados no próximo dia 9 na Galeria São Paulo. A integração visual nos dois períodos será alcançada a partir dos efeitos obtidos pela conjugação de flores e luzes coloridas. Elas comporão nove pórticos de 17 metros de altura, cada, sustentados por tubos de estrutura metálica do mesmo material das arquibancadas que, concentrados em 800 metro de extensão, formarão uma espécie de corredor ou palco para o concorrentes.

    Império, convidado por Cláudio Tozzi, - autor do logotipo - trabalhou a toque de caixa. Não porque seja propriamente seu estilo, mas devido à displicência da Prefeitura em se organizar para a ocasião. "No Rio de Janeiro as coisas saem bonitas, com calma, porque o Carnaval é elaborado artesanalmente durante o ano todo. Aqui as pessoas acham que coreografar é a mesma coisa que montar arquibancadas, uma coisa industrial. Tudo é feito em cima da hora, sem idéias prévias e sem dinheiro."

    A própria Paulistur não sabe quanto vai custar a festa. O presidente interino Edson Dezen (no lugar de João Dória Júnior, em férias novaiorquinas) arrisca dizer que a verba geral pode chegar a Cr$ 700 milhões, Cr$ 200 milhões menos que o Carnaval do ano passado. "Pretendemos 30% mais barato, sem a inflação. Por isso pensamos em arquibancadas mais simples, sem camarotes. O desfile poderá ser visto por 30 mil pessoas, pagando ingressos de Cr$ 5 a Cr$ 10 mil, com exceção dos lugares nobres, na parte central, que serão vendidos num pacote para quatro dias, talvez cerca de Cr$ 50 mil. Outra novidade é o som, planejado por sistema de computador; antes, ele saía no mesmo volume, e agora aumentará conforme a escola desfilar, impedindo confusão sonora entre quem entra e quem está saindo da avenida."

    As arquibancadas da avenida Tiradentes já começaram a ser montadas, mas os custos, segundo Dezen, só serão decididos dentro de dez dias, aproximadamente, quando saírem as concorrências públicas para decoração, som e luz. Enquanto nada se resolve, os convidados para projetos principais - Cláudio e Flávio - concluem sua parte. Tozzi imaginou um símbolo que, unindo duas serpentinas azul e rosa em fundo branco, sugerem absolutamente; os perfis de uma mulata - a porta-bandeira - e o mestre-sala. Para ele, toda magia está na alegria das pessoas brincando: "É como um quadro impressionista: muitas cores fortes que se movimentam pelas ruas num imenso desfile". Daí ter decidido que seu logotipo não incluiria a maneira comum de representação carnavalesca, com pandeiros e sombrinhas, mais acertados para o frevo.

    Luzes e flores

    De seu lado, Império prestou atenção na magreza de verba (que não sabe qual é, mas com certeza racionada), na pressa da encomenda (ele criou tudo em uma semana), e fixou-se num dado bastante forte: a festa que o brasileiro curte tão bem, e enfeita sempre com luzes e flores coloridas. Sem precisar pensar em enredos, tramas e estrelas, fantasiou a Avenida Tiradentes em seu ponto central.

    "A decoração procura acabar com o prejuízo que certas escolas levam, porque sempre se pensa em elementos que funcionem à noite. Então as flores (vermelhas, laranja e amarelas) enfeitarão o espaço de dia, enquanto as luzes (brancas, amarelas e vermelhas) serão utilizadas quando escurecer. E depois, procurei dar um ambiente bonito tanto para os que estão dentro da avenida como os que estão de fora".

    EQUIPE DE REPORTAGEM

    CARNAVAL, AVENIDA TIRADENTES
    (1984)