NOEL ROSA, O POETA DA VILA E SEUS AMORES
(1977)

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    Depoimento de Flávio Império a Sábato Magaldi
    1980
    Acervo Flávio Império

    © Flávio Império

    Noel Rosa não era ligado à famosa exuberância da natureza do Rio de Janeiro. A natureza a que ele se refere, digamos assim, é a natureza dos subúrbios. Foi por isso que idealizei um amplo céu estrelado que faz fundo às cenas que se desenrolam sob as áreas abertas. Noel vivia no universo romântico da noite. É por isso que os símbolos que uso são todos noturnos: luzes de poste, da lua, de vitrais. E assim mesmo os apresento sob forma de silhueta, de lâminas de perfis …

    Encontrei na Vila Isabel um tipo de arquitetura muito rica. Trata-se de uma arquitetura feita pelos imigrantes italianos, semelhante aquela encontrada em certos bairros de São Paulo, só que muito mais exuberante e mais trabalhada. Encontra-se, por exemplo, uma abundância de grades e grades de ferro que são utilizados nas aberturas de ventilação, coisa que em São Paulo é muito rara. Ao criar os cenários usei todos esses elementos, mas sem a intenção de criar um cenário puramente ilustrativo. Os cenários, por força dos textos e dos personagens são narrativos até certo ponto, muitas vezes funcionam mais como comentários ao próprio texto. Eles tem humor, brincam e são ligados a um gênero de fazer da tradição do espetáculo musical. Como aqueles antigos musicais da Cia Cinematográfica Atlântica, só que mais ricos pois que são super coloridos.

    No (espetáculo) Noel Rosa procurei criar uma dinâmica de utilização do espaço como um musical, que foi o que propus quando li o texto. Essa não é uma peça realista, isso é um musical, então o espaço tem que ficar livre para a dança e para o canto e cada elemento que descia do urdimento, só circunstanciava, mais ou menos de forma decorativa. Não era uma coisa realista.

    FLÁVIO IMPÉRIO

    NOEL ROSA, O POETA DA VILA E SEUS AMORES
    (1977)